Centro Espírita Fraternidade Lorena São Paulo - Brazil

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O Testamento do Mendigo

 
 (Este testamento foi transcrito em uma revista. Foi feito por um mendigo.
  Ele não tinha nada material para transmitir a alguém, mas sente-se feliz
  em deixar muitas coisas que o dinheiro não compra.)


 
  Agora, no fim da vida
  Como mendigo que sou,
  Me sinto preocupado,
  Intrigado e num momento
  Me pergunto, embaraçado,
  Se faço ou não testamento.

  Não tendo, como não tenho
  E nunca tive ninguém,
  Pra quem é que eu vou deixar
  Tudo o que eu
tenho: os meus bens?

  Pra quem é que vou deixar,
  Se fizer um testamento,
 
Minhas calças remendadas,
  O meu céu, minhas estrelas,
  Que não me canso de vê-las
  Quando ao relento deitado
  Deixo o olhar perdido,
  Distante, no firmamento?

  Se eu fizer um testamento
  Pra quem é que vou deixar
  Minha camisa rasgada,
  As águas dos rios, dos lagos,
  Águas correntes, paradas,
  Onde às vezes tomo banho?

  Pra quem é que vou deixar,
  Se fizer um testamento,
  Vaga-lumes que em rebanhos
  Cercam meu corpo de noite,
  Quando o verão é chegado?

  Se eu fizer um testamento
  Pra quem vou deixar,
  Mendigo assim como sou,
  Todo o ouro que me dá
  O sol que vejo nascer
  Quando acordo na alvorada?
  O sol que seca meu corpo
  Que o orvalho da madrugada
  Com sua carícia molhou?

  Pra quem é que vou deixar,
  Se fizer um testamento,
  Os meus bandos de pardais,
  Que ao entardecer, nas árvores,
  Brincando de esconde-esconde,
  Procuram se divertir?
  Pra quem é que eu vou deixar
  Estas folhas de jornais
  Que uso para me cobrir?

  Se eu fizer um testamento
  Pra quem é que eu vou deixar
  Meu chapéu todo amassado
  Onde escuto o tilintar
  Das moedas que me dão,
  Os que têm a alma boa,
  Os que têm bom coração?

  E antes que a vida me largue,
  Pra quem é que eu vou deixar
  O grande estoque que tenho
  Das palavras "Deus lhe pague"?

  Pra quem é que eu vou deixar,
  Se fizer um testamento,
  Todas as folhas de outono
  Que trazidas pelo vento
  Vêm meus pés atapetar?

  Se eu fizer um testamento
  Pra quem é que vou deixar
  Minhas sandálias furadas,
  Que pisaram mil caminhos,
  Cheias dos pós das estradas,
  Estradas por onde andei
  Em andanças vagabundas?
  Pra quem é que eu vou deixar
  Minhas saudades profundas
  Dos sonhos que não sonhei?

  Pra quem eu vou deixar,
  Se fizer um testamento,
  Os bancos dos meus jardins,
  Onde durmo e onde acordo
  Entre rosas e jasmins?
  Pra quem é que vou deixar,
  Todos os raios de luar
  Que beijam minhas mãos
  Quando num canto de rua
  Eu as ergo em oração?

  Se eu fizer um testamento
  Pra quem é que vou deixar
  Meu cajado, meu farnel,
  e a marca deste beijo
  Que uma criança deixou
  Em meu rosto perguntando
  se eu era Papai Noel?

  Pra quem é que eu vou deixar,
  Se fizer um testamento,
  Este pedaço de trapo
  Que no lixo eu encontrei
  E que transformei em lenço
  Para enxugar minhas lágrimas
  quando fingi que chorei?

  Se eu fizer um testamento...
  Testamento não farei!
  Sem nenhum papel passado,
  Que papéis eu não ligo,
  Agora estou resolvido:
  O que tenho deixarei,
  Na situação em que estou,
  Pra qualquer outro mendigo,
  Rogando a Deus que o faça,
  Depois que eu tiver morrido,
  Ser tão feliz quanto eu sou.

  Urbano Reis...